Voltávamos para casa. O aniversário estava animado. Um amigo fez muita questão que fôssemos. Não quis beber. Insistiram. Bebi apenas um copo de uísque. Fui advertido de que a lei seca estava muito severa e que aquela simples dose poderia complicar-me. Não me importei: teimei com minha esposa e decidi não deixá-la dirigir: eu mesmo o faria.
O tempo estava nublado. A uns quinhentos metros percebi o semáforo aberto. Resolvi acelerar. Aproveitar a luz verde. Mas já fazia tempo que ele estava a permitir a passagem. Achei que não daria tempo, mas mesmo assim resolvi arriscar. A cinqüenta metros, o danado resolveu amarelar. Também amarelei. Numa fração de segundo... Paro? Estou muito veloz, acho que dá! Paro? Não, pode ser que alguém bata na minha traseira. Quase no cruzamento, quase podendo ver os dois lados da via perpendicular, penso em acelerar. Não, vou parar! É tarde: lá vem uma viatura da polícia, do meu lado direito, da Força Nacional. Vai bater...
Lembro apenas de já estar sendo arrastado para fora do carro, aos gritos, sob ameaça de ser preso. Minha esposa nervosa, pedindo para que me soltassem: mas dois grandalhões a impediram de chegar perto de mim. Arrastaram-me para trás da viatura, com a delicadeza que só os policiais semi-analfabetos e que abusam da autoridade têm. Meteram a mão na minha cara, humilharam-me perante minha esposa. E eu, atônito, não conseguia pronunciar uma palavra sequer diante de tamanha injustiça e brutalidade.
Chutaram meu carro, arrancaram os retrovisores. Estavam cegos de ódio por eu ter batido na viatura. Sequer cogitaram a possibilidade de um diálogo. Populares que começavam a chegar, eram expulsos do local aos gritos. Um deles, o mais velho, quase quebrou meus dentes com o aparelho que mede o nível de álcool no sangue. Quase fiquei no permitido, ultrapassei poucos decigramas. O suficiente, para que eu fosse algemado e arremessado na mala da viatura.
Não, não sou juiz!
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